
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Heterônimos...
Alberto Caeiro, o pastor-poeta afirma a capacidade de interrogar a realidade.Heterônimos...

Passa uma borboleta por diante de mimE pela primeira vez no universo eu reparoQue as borboletas não têm cor nem movimento,Assim como as flores não têm perfume nem cor.A cor é que tem cor nas asas da borboleta,No movimento da borboleta o movimento é que se move,O perfume é que tem perfume no perfume da flor.A borboleta é apenas borboletaE a flor é apenas flor.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o infinito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
Ricardo Reis, sua visão de mundo complexa e contraditória, o eleva à consciência ilimitada do amor e do gozo.

Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se cabe, tudo se imagina.
Nada se cabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
E cala. O mais é nada.
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